terça-feira, 18 de agosto de 2009

Artigo: Como os hippies fizeram Wodstock

REVISTA ÉPOCA:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI88029-15220,00-COMO+OS+HIPPIES+FIZERAM+WOODSTOCK.html


Como os hippies fizeram Woodstock
Jornalista brasileiro que foi hippie durante as décadas de 60 e 70 nos Estados Unidos conta como o público transformou o que seria mais um festival de rock em um dos mais importantes acontecimentos da história da música mundial


Danilo Casaletti


Irreverência O público de Woodstock foi uma atração à parte

Nesta semana o mundo celebra os 40 anos de Woodstock, o lendário festival de rock organizado por Michael Lang que aconteceu em uma fazenda em Bethel, ao norte de Nova York, entre os dias 15 a 16 de agosto de 1969. No palco, estrelas como Joe Cocker, Jimi Hendrix, Santana, The Who, The Grateful Dead, Joan Baez e Janis Joplin. Na plateia, quase 400 mil jovens, que, para o jornalista Joel Macedo, autor do livro Albatroz, o encontro das tribos na Califórnia dos anos 60 (Editora Danprewa), foram os grandes protagonistas do evento.

Woodstock não estava sendo cotado com um grande festival. Seria, a princípio, um evento de rock como tantos outros que aconteciam pelos Estados Unidos. “Só foi um mega festival porque o povo derrubou a cerca”, diz Macedo. E o jornalista conhecia bem o público que invadiu a fazenda e fez de Woodstock um festival antológico: fazia parte da mesma tribo. Joel foi para os Estados Unidos no final de 1968, aos 20 anos, como correspondente do jornal carioca Última Hora, chefiado pelo jornalista Samuel Wainer, e logo que chegou, tomou parte do movimento. “Era tudo muito forte, efervescente”, diz.

A paz universal, o fim da Guerra do Vietnã, o amor livre, o fim do racismo e, claro, muitas drogas eram as principais bandeiras defendidas pelo público de Woodstock. Quem esteve por lá costuma dizer que quem se lembra de muitos detalhes é porque provavelmente não esteve ou pelo menos não aproveitou como deveria. O registro histórico, porém, foi garantido pelo cineasta Michael Wadleigh, que captou imagens do festival e as lançou no filme Woodstock, 3 dias de paz, amor e música, de 1970.

Os três dias de paz e rock acabaram ficando marcados como um importante episódio da luta americana pelos direitos humanos, que começou ainda na década de 50 e teve seu apogeu em 1963, na Marcha sobre Washington de Martin Luther King. “Em 1969, o movimento ressurgiu com outra bandeira, a pacifista. Era uma outra agenda, mas o mesmo movimento”, diz.

Para Macedo, porém, o movimento hippie teve seu anticlímax poucos meses depois, em dezembro de 1969, durante o festival de Altamont, na Califórnia. Programado para ser uma resposta da costa oeste americana a Woodstock, o evento, organizado pelos Rolling Stones, reuniu bandas californianas, mas ficou marcado pela violência e pela morte de quatro pessoas que foram esfaqueadas por motoqueiros do grupo Hells Angels, que foram contratados para fazer a seguranças do festival. “As drogas já estavam sob controle do crime organizado”, afirma Macedo. “O movimento hippie mudou de mão, fugiu de controle. Em Altamont, o sonho acabou”.

De volta ao Brasil, no verão de 1970, Macedo participou da fundação do movimento hippie brasileiro que, no mesmo ano, recebeu uma visita ilustre: a cantora Janis Joplin. “Ela veio passar o carnaval no Rio de Janeiro, mas já estava mal, não largava a garrafa de bebida”. O jornalista se lembra de Janis sentada na grama da praça General Osório, uma espécie de reduto hippie da cidade, cantando para homenagear o movimento.

Durante a ditadura militar, o movimento hippie brasileiro foi mais uma força, ao lado da luta armada, contra o regime. Mas, assim como fora do país, as mudanças acabaram transformando a cultura em uma espécie de caricatura. "Apesar de não praticamente não existir mais, o movimento hippie é visto como parte importante da história. Foi a geração da utopia por um mundo novo. Era uma geração corajosa, que decidiu assumir o papel de sujeito “, afirma Macedo.



Guitarras e protestos





Hendrix O guitarrista americano subiu ao palco no úlitmo dia do festival
Para o crítico musical Jamari França, o Woodstock foi muito mais que um festival de música. “Ele reuniu uma geração em torno de um objetivo que era a paz mundial e semeou na nossa sociedade hábitos que muitos cultivam até hoje, como a busca de uma alimentação mais saudável, a prática do ioga, o pacifismo”, diz Jamari, que é responsável pela tradução do livro Woodstock - quarenta anos depois, o festival dia a dia, show a show, contado por quem esteve lá.

Entre as apresentações, França destaca a do guitarrista americano Jimi Hendrix (1942-1970). "Sua performance tocando o hino americano, com aqueles barulhos de explosões e bombas, se tornou um clássico. Depois do protesto, ele ainda fez um culto às drogas, um símbolo de Woodstock e da cultura hippie”, afirma o crítico. Por seu valor histórico, a apresentação de Hendrix em Woodstock foi, sem dúvida, uma das melhores de sua carreira.

Outro artista que tem seu nome sempre associado ao festival é a cantora Janis Joplin (1943-1970). Mas, na opinião de França, Janis não fez história em agosto de 69. “Ela já estava muito deteriorada pelas drogas. Sua performance nem entrou para o documentário que foi lançado sobre o festival”, diz. Para o crítico, Woodstock ainda trouxe duas grandes revelações: Santana e o cantor americano Joe Cocker. “Santana era um guitarrista pouco conhecido. Tocava em lugares pequenos”, diz.

França também aponta o público como o grande protagonista do festival, essas "400 mil pessoas que resistiram três dias em meio à lama”. A média de idade da plateia era de 19 a 25 anos, justamente a faixa etária que era convocada pelo governo dos Estados Unidos para lutar na Guerra do Vietnã. “Eles queriam o fim da guerra. Os protestos que faziam eram sempre pacifistas, mas sempre eram recebidos com 'porradas' pelo governo americano”, diz.

O momento histórico - durante a Guerra do Vietnã - e a cultura da plateia fizeram de Woodsock um momento único, que não pôde ser superado nem mesmo pelos outros festivais organizados pelo mesmo Michael Lang. O produtor, inclusive, desistiu de fazer um concerto para celebrar seus 40 anos, como havia anunciado inicialmente. “Não dá para repetir um momento. É impossível”, diz França.

Livros e filmes para reviver Woodstock

Editoras e gravadoras lançam novos produtos para aqueles que querem experimentar a energia da música e do movimento hippie 40 anos depois



Woodstock, 3 dias de paz, amor e música
Documentário (225 minutos)
R$ 123.90
Idealizado por Michael Wadleigh, o filme foi lançado um ano após o festival e ganhou o Oscar de melhor documentário de 1971. Em julho deste ano, uma nova edição foi lançada e traz, além do registro de 32 das principais bandas da época e das canções apresentadas no festival, há cenas inéditas, entrevistas e reflexões dos artistas.Woodstock, 3 dias de paz, amor e música


Woodstock - quarenta anos depois, o festival dia a dia, show a show, contado por quem esteve lá
Autor: Pete Fornatele
Tradução: Jamari França
Editora: Agir
320 páginas
R$ 39,40
O livro traz um panorama do festival por quem participou dele. Dividido em três parte, um para cada dia de show, o livro conta com depoimentos de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Joe Cocker, Jerry Garcia, Joan Baez, Santana, entre outros.


Aconteceu em Woodstock - a história real do concerto que marcou uma geração
Autor: Elliot Tiber com Tom Monte
Editora: Best Seller
304 páginas
R$ 34,90
Autobiografia de Tiber, que conta no livro que, para salvar o hotel dos pais da falência, ofereceu o terreno para promover um show de rock. Ele nem imaginava que o evento se transformaria no maior festival de todos os tempos. O livro virou filme pelas mãos do cineasta Ang Lee e tem sua estreia marcada para este mês nos Estados Unidos e em janeiro no Brasil.

Albatroz, o encontro das tribos na Califórnia dos anos 60
Autor: Joel Macedo
Editora: Danprewa
189 páginas
R$ 29,90
O romance escrito pelo jornalista Joel Macedo começa no festival de Altamont, realizado em dezembro de 1969, e conta a história de um jovem que parte com sua moto para Califórnia e lá descobre a cultura hippie. Por meio da narrativa, o autor conta a ascensão, o apogeu e o prenúncio da queda do movimento hippie e mostra suas raízes antropológicas na cultura indígena.

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